segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Lúcifer: Mito e Verdade.

O termo "Lúcifer", alcunhado por São Jerônimo no século 4 D.C ao traduzir a Bíblia para o Latim, a Vulgata, deriva do hebraico "Heilel Ben-Shahar" e pode ser traduzido como "brilhante estrela da manhã". Corresponde-se com o planeta Vênus, a estrela matutina que "traz a luz solar" ao brilhar no horizonte ainda nos primeiros momentos da manhã, ao nascer do sol. A raiz "Ben-Shahar" também pode significar "filho do negrume" ou "buscar cedo, procurar sinceramente; alvorada”. No latim ele é Lux Fero, ou Lucem Ferre, o Portador da Luz; e no Grego, Phosphorus, o deus da luz e da manhã.

A expressão hebraica  aparece seis vezes na septuaginta e não foi sempre traduzida como "Lúcifer". Vemos na primeira epístola de Pedro o seguinte versículo: "E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva (Lúcifer) surja em vossos corações" (2 Pedro 1:19). Lúcifer aqui representa o Cristo, estado de todo ser humano integrado com sua essência divina.

Já na tradução de Isaías 14:12: “Como caíste do céu, ó Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante?”, onde a mesma expressão ganhou conotação negativa e gerou o mito sobre um anjo que caiu dos céus, Lúcifer refere-se a um rei Babilônio, de grande renome e poderio. De fato, Lúcifer não é um ente específico, mas um título que pode ser atribuído a qualquer homem e mulher auto-conscientes e plenamente desenvolvidos em todas as suas potências. A luz que porta é a luz da consciência, latente em todos os indivíduos, mas adormecida em grande parte da humanidade.

Lúcifer é o Logos, o Verbo de Deus, o Primogênito da Criação. Em João 1:1-5 temos o seguinte texto:  "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a  compreenderam.". Ele é, portanto, o princípio de todas as coisas, a consciência auto-gerada no caos primordial que organizou todos os elementos e tudo formou.

A Física Quântica hoje assume que vivemos em uma realidade virtual. Partículas subatômicas, que formam todo o Universo, não parecem obedecer a uma lei que as comporte e as submeta a agirem de maneira organizada. O comportamento delas é definido pelo simples ato de observá-las, podendo elas agirem como ondas ou partículas a depender apenas do observador. É a consciência que as organiza e cria a forma do que antes comportava-se como um aglomerado de partículas.

Prometheus bringing fire. 
1637. Jan Crossiers. Flemish. 
1600-1671. oil on canvas.
 Prado Museum.
Ora, não é Lúcifer essa mesma consciência que a todas as coisas gerou? Sem ele nada do que foi feito se fez. Ele é a pura manifestação da essência divina na matéria que se criou quando, por própria Vontade, dividiu-se a fim de conhecer a si mesma. Na Árvore da Vida ele pode ser correspondido com a esfera de Binah, a grande mãe de onde a criação tomou forma, onde a compreensão do conhecimento com sabedoria desdobrou-se na matéria. O "Filho do Negrume", sai das negras águas de Binah para revelar a luz.

Lúcifer também é associado a Prometheus, um dos mitos gregos de maior destaque e mais presença nas culturas ocidentais. Prometheus significa etimologicamente “o que é previdente”, o que pensa
primeiro e depois age. No mito ele rouba o fogo do Olimpo e dá aos homens, criando o homem do barro e nele colocando uma chispa do fogo divino. Zeus se enfurece por ter perdido assim o domínio sobre os homens, pois temia que os mortais ficassem tão poderosos quanto os próprios deuses. A fim de castigá-lo, Zeus o acorrenta a um penhasco, onde uma águia (ou abutre) lhe come o figado diariamente, que se reconstitui a cada manhã. Mais tarde Héracles (Hércules, para os romanos) o resgata.

Prometheus Bound 
by Peter Paul Rubens (and Frans Snyders).
Este mito ilustra a "queda" do homem na cruz da matéria. Representa o herói que, desejoso de salvar a humanidade de sua ignorância e escravidão, é acorrentado e castigado, condenado a sofrer suplícios. É o ser humano iluminado que nasce neste mundo para o sofrimento da materialidade e alegria de resgatar a humanidade das trevas. Prometheus é símbolo de sacrifício, amor e sabedoria.

Lúcifer, a pura consciência aprisionada à condição material dignifica o homem e o eleva. É o estado de todo aquele que, resplandecendo a luz incriada, é impulsionado à evolução, à sabedoria, à verdadeira gnose. Lúcifer não é um demônio e nunca foi um anjo. É, antes, a força sem forma que move os seres humanos, a chama sagrada que arde nos corações de todo homem e toda mulher. A própria centelha divina.






Soror Áurea Minerva.
Ordem Illuminati - RJ



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